A Prova


Tomaz Fantin

Já era sexta-feira na boca da noite e ainda tínhamos muita coisa para estudar. Do nada, o Marauê deu um tapa na própria cabeça:
— Oh meu...tá ligado que hoje é o final da novela?
— Vão revelar o assassino.
Começamos um debate entre seguir estudando a matéria ou abortar para assistir ao último capítulo. Descobrir, após tantos meses, quem era, afinal, o assassino. Entre argumentos pró e contra, seguimos estudando:
— Amanhã vai passar a reprise, meu, a gente pode seguir estudando e depois da prova nos isolar das pessoas, daí assiste como se fosse hoje, sem saber quem é o assassino.
— Gênio.
Resolvemos a lista de exercícios que o professor tinha passado e fomos dormir lá pelas duas da manhã. No outro dia acordamos cedo e pegamos o ônibus que levava até o Campus Universitário. Ninguém conhecido. Sorte. Descemos e fomos reto para a sala da prova:
— Até aqui deu certo.
— Quem será o assassino?
— Tô me remoendo.
Os professores aplicaram a prova. Resolvi algumas, outras deixei em branco. Entreguei. Marauê tinha terminado um pouco antes e me esperava:
— Como foi?
— Acho que bem, vamos rápido pra parada.
Lá estava o Estrela, um colega cabeção:
— E aí, gurizada? Viram a novela ontem? Quem diria que o assassino er...
— Schhhhhh...
— Para, para, para...a gente não quer saber...
Explicamos a nossa situação. O Estrela elogiou muito a nossa atitude e disse que era muito certo que tínhamos ido bem na prova. Ele achava que tinha ido mais ou menos.
Saltamos do bus e corremos para a minha casa.
Dormimos a tarde toda e depois comemos uns ovos fritos. Nada de tevê, nem rádio. Passamos o dia isolados da civilização. Eram tempos sem internet no celular.
Faltando meia hora para começar a reprise o meu amigo teve outra ideia:
— Oh, meu...fosse a gente comprar uns pães de queijo com uma cervejinha pra curtir a novela?
— Pode ser, tô muito ansioso para saber quem é o assassino.
Caminhamos até o mercado que ficava a uns 10 minutos da minha casa. Compramos os pães de queijo, cinco latões de breja e uma goiabada pra sobremesa. Estávamos quase chegando no caixa quando o Marauê deu outro tapa na própria cabeça:
— Putz grila, não acredito!
— Que que deu, homem?
— Já sei quem é o assassino.
— Não me diz, não me diz...como que tu soube?
— Tá na capa do Diário Gaúcho.
Como que um imã puxou os meus olhos para os jornais expostos próximo aos caixas: LAURA, A ASSASSINA.
Fomos para casa de ombros baixos sem falar um com o outro. Vinte três horas e trinta minutos pra um pão de queijo nos dar o spoiler.
Comemos, bebemos e assistimos ao final da novela, que por sinal estava muito bom. Lembro que a Laura era interpretada pela Cláudia Abreu.
Na segunda-feira saíram as notas das provas. O Marauê tirou três, eu tirei dois e meio e o Estrela tirou nove.

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Tomaz Fantin

E-mail: tomazfs@yahoo.com.br

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