Tomaz Fantin
No fim da estrada um estacionamento. Dali, só por trilha. A Amanda desligou o carro e me mandou pegar o pacote no porta-malas. Nuvens se armavam para os lados do Continente. Entramos no mato.
O mar por entre as árvores. Solidão. Ar fresco. Verde. Azul. Amarelo. O sol caindo atrás dos morros. Uma velhinha japonesa nos ultrapassou caminhando rápido.
Eu segurei a muamba mais firme e falei pra Amanda que a gente tinha que ficar velho igual àquela velha. A Amanda nem me respondeu, ela era muito profissional. Galhos, troncos, raízes e barro. Sobe e desce. Pernas pra que te quero. A mata se abriu.
Desabitado fim de ilha em formato de ferradura. Um barco colorido na areia e fogueiras nas cabanas dos hippies. A velha japonesa surgiu de uma toca:
— Trouxeram o bagulho?
Se eu soubesse que era ela o contato nem tinha feito a trilha:
— Tá na mão — disse a Amanda.
— Senha? — disse a japonesa.
— Marcelo D2, contrassenha?
— Na lata sem dó.
A Amanda era muito profissional. A japonesa me passou um maço de notas. Contei. A Amanda alcançou o bagulho e giramos nos calcanhares sem olhar para trás. De volta. Caímos no mato pela trilha.
Já tava ficando escuro e ligamos as lanternas dos celulares. Na chegada só o nosso carro no estacionamento. A Amanda pegou no meu braço, eu sorri pra ela.
Nisso, apertou com mais força, deu um puxão e torceu. Eu tentei me segurar e ela me passou uma rasteira. Caí imobilizado na grama. Policiais saíram do mato e me algemaram Giroflex.
A velha japonesa apareceu carregada por um brutamontes. Me enfiaram atrás de uma das viaturas e a japonesa numa outra. Antes de arrancar, pela janela, eu vi a Amanda sendo parabenizada pelos federais. Nem olhou pra mim.
Ela era muito profissional.