Tomaz Fantin
Acho que foi o Vitor Ramil quem disse que o Rio Grande do Sul é uma região de transição entre o Brasil, o Uruguai e a Argentina.
Uma identidade híbrida que acabou respingando nos dois times que praticamente dividem as paixões no Estado: o Grêmio é o mais platino dos brasileiros e o Inter é o mais brasileiro dos gaúchos.
Enquanto o tricolor olha para o Rio da Prata, o colorado olha para o Rio de Janeiro.
Lupicínio deveria ter feito o hino do Inter. O buraco no espaço-tempo foi tão grande que acabou saindo um dos hinos mais bonitos do futebol. Para debochar, o hino colorado foi feito por um sambista carioca, Nelson Silva, que ainda por cima era flamenguista.
Quem levantou a primeira Libertadores do Grêmio foi um uruguaio, o técnico da segunda era da Serra Gaúcha e quem fez o gol do Mundial também. Já quem levantou a primeira Libertadores do Inter foi um goiano, o técnico era carioca e o autor do gol do Mundial, alagoano.
Alguém poderá dizer: e o D´alessandro? D`alessandro se naturalizou brasileiro, escolheu ser brasileiro mesmo sendo argentino.
Argentina e Uruguai usam azul, branco e preto em seus uniformes. A seleção brasileira não usa vermelho, mas o nome Brasil vem de Pau-Brasil que dava uma tinta com a cor de brasa, vermelha. Brasil significa vermelho. E eu nem preciso dizer quem é que usa a camisa vermelha.
Não é à toa que, por muito tempo, a maior torcida gremista se chamava Alma Castelhana. Não é à toa que o mascote do Inter seja um saci.
O Grêmio fala portunhol, o Inter fala português com sotaque da quebrada.
O Grêmio é charrua, o Inter tupi-guarani.
O Grêmio é gaucho, o Inter é gaúcho.
Por isso são tão parecidos, afinal de contas a América Latina é uma Pátria Grande de um mesmo povo que habita desde o México até o estreito de Magalhães, como já disse o Che Guevara.